domingo, 28 de setembro de 2008

Esperança

Sinto que aquela porta onde tinha depositado a minha esperança se fechou. Tenho perdido dias a olhar para ela, como se ao rebobinar o filme pudesse ver o momento exacto que desencadeou este desfecho. O momento em que perdi o controlo da situação (se é que alguma vez o tive).
Estas dúvidas fazem parte de mim. Não de agora. Não desta situação em específico. Olho para trás e vejo que não é a primeira vez que me fixo na porta que se fechou à minha frente. Como é que se dá a volta a isso? Como é que continuamos? Qual é o momento em que seguimos em frente e deixamos o que se passou para trás?
O passado já me devia ter ensinado que o importante não é procurar respostas onde elas já não existem. O importante é tentar voltar a olhar à nossa volta. Voltar a procurar uma outra porta, uma janela, um feixe de luz por mais pequeno que seja.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Em Movimento

Há dias que começam por ser cinzentos. O meu Sábado começou assim. Depois, e sem nada o fazer prever, foi abrindo e dando lugar a outras cores.
A culpa foi dos Chocalhos e da minha família que esteve comigo em Alpedrinha, no Festival dos Caminhos da Transumância.
Caminhámos pelas ruas estreitas, parámos em todas as portas, ou melhor, tasquinhas (escusado será dizer que eu só tive direito a água) e assistimos a concertos e desfiles. Um misto de sons entre chocalhos, bombos e uma tuna feminina. Ainda bem que certas tradições se mantêm.

sábado, 13 de setembro de 2008

Pedalar contra o Linfoma

Não consigo falar. Tenho um nó na garganta, as lágrimas correm-me e sinto-me novamente perdida. Talvez tenha subestimado a doença. Parece que não conheço o meu corpo. Não o sinto. Não o compreendo. Não estamos em sintonia. Estava à espera de um resultado diferente e, nesta fase, vou ter que repetir o PET, voltar a fazer TAC, biópsia óssea e mielograma. Sei agora que ainda tenho que "pedalar" muito contra o linfoma. Sim, ainda não me dou por vencida.

E hoje a Associação Portuguesa de Leucemias e Linfomas (APLL) promove a iniciativa "Pedalar Contra o Linfoma" no Porto. Em vésperas do Dia Mundial do Linfoma (15 de Setembro), o director desta Associação diz que “apesar do elevado número de pessoas diagnosticadas com linfoma anualmente em Portugal existe um grande desconhecimento da doença, quer por parte da população em geral, quer por parte dos que padecem da doença”.
Iniciativas como estas são sempre uma mais valia, sobretudo para sensibilizar a população, até porque os sintomas do linfoma são pouco específicos. No meu caso, tinha uma comichão persistente nas pernas, um cansaço extremo que associava ao trabalho, um gânglio aumentado no pescoço e o último dos sintomas foi ter expectorado com sangue. Este foi o sintoma que me levou ao Hospital. Nunca mais me largaram...lol

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Para reflectir...

Enquanto aguardo os resultados, vou estando atenta ao mundo lá fora e por isso aqui fica uma reflexão que li numa revista:

“Dantes a gente ia às farmácias e via uma parede ou várias paredes cobertas de remédios. Agora não. Os medicamentos estão misteriosamente acondicionados lá mais para trás, num recatado segundo plano e diante de nós há toda uma gigantesca panóplia de bisnagas, frascos, boiões... de “estética”. É o ar do tempo a ocupar a frente do palco. Na impossibilidade –ainda- de prometer o fim da morte, garante-se o fim das rugas, o fim do envelhecimento, o fim do excesso de peso, o fim dos cabelos brancos, o fim da idade. Numa palavra, o fim do tempo.
(...)
Na vigente diluição de valores e regras, trocou-se o “nós” pelo “eu” e a publicidade obviamente corresponde, afogando as ondas hertzianas no individualismo mais feroz, “compre um carro novo, vá de férias, seja feliz, beba Coca-Cola, tenha tudo o que quer”. Mas há ainda um mais subtil convite, há esse extraordinário “atreve-te”... em prol, claro, da “felicidade”. A “tua felicidade”. Subentendido: atreve-te ao que quiseres, como quiseres.
É natural. Em nome exclusivo dessa “felicidade”(?) o mundo vetou de vez o sofrimento, tirou os velhos da frente, proibiu a idade, escondeu a morte. Tem vergonha dos que não são “felizes” porque é obrigatório ser feliz e já agora também “belo” e “jovem”, e, para isso cultive-se o corpo mais que alma, faça-se ginástica, frequentem-se os spas, pratique-se o prazer à solta. Não está a juventude, de preferência a eterna, afinal tão ao alcance da mão?
(...)
Entretanto, as prateleiras das tais farmácias – embora lá para trás- contam já tantos ansiolíticos quanto salvíficas gotas de juventude. Também é natural."

Maria João Avillez in Revista Sábado de 17-07-2008