quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

B.O.

Para quem tem os nervos à flor da pele ser levada por aqueles corredores, em que as luzes se vão sucedendo umas às outras como se de um desfile se tratasse, digamos que não é coisa fácil. Depois há o ritual do tapete e finalmente a entrada naquela sala fria, pouco acolhedora, com luzes redondas, implacavelmente apontadas na minha direcção e repleta de objectos que podemos associar ao acto de tortura.
A primeira vez que entrei numa destas salas tive uma paragem respiratória - resultado de emoções fortes. Nesta segunda vez, correu tudo como era suposto: anestesia e um, dois, três... Adormeci. Quando acordei disse um disparate qualquer do género "estive a sonhar com coisas boas", apesar de não me recordar de nada.
E pronto, tenho um catéter novo, retiraram o implantofix e colocaram um que permite a recolha de células. Na próxima segunda vou começar a fazer essa recolha... (auch!)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Estranho Caso de Benjamin Button


Há muito tempo que não tirava umas horinhas para ir ao cinema, mas nas vésperas do Carnaval aproveitei para ir ver O Estranho Caso de Benjamin Button.
Saí do cinema com o pensamento mergulhado nesta história invulgar, que fala sobretudo das pessoas e dos seus talentos, daquilo em que se aproximam e daquilo em que se distanciam, do ciclo da vida, da velhice, do fim dos dias, da verdade omitida durante anos e do amor. É um filme comovente, feito de memórias, como o desenrolar de um novelo.
Questionamos o que aconteceria se os ponteiros do relógio passassem a funcionar em sentido contrário, se em vez de acrescentarem segundos, minutos e horas, as retirassem? E se o ciclo de vida começasse pela velhice e acabasse na infância? E se a nossa aparência não coincidisse exactamente com o nosso espiríto?
Baseado no livro de F. Scott Fitzgerald, este filme é bastante longo (aproximadamente 3 horas), mas no final fiquei com a sensação que valeu a pena. De resto, os prémios atribuídos foram totalmente merecidos, porque a caracterização, os efeitos visuais e a direcção artística estão de parabéns.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Rotina

Ao abrir a janela do quarto para outras

janelas de outros quartos, ao veres a rua que desemboca

noutras ruas, e as pessoas que se cruzam, no início da

manhã, sem pensarem com quem se cruzam

em cada início de manhã, talvez te apeteça

voltar para dentro, onde ninguém te espera. Mas

o dia nasceu - um outro dia, e a contagem do tempo

começou a partir do momento em que

abriste a janela, e em que todas as janelas

da rua se abriram, como a tua. Então, resta-te

saber com quem te irás cruzar, esta manhã: se

o rosto que vais fixar, por uns instantes, retribuirá

o teu gesto; ou se alguém, no primeiro café que

tomares, te devolverá a mesma inquietação

que saboreias, enquanto esperas que o líquido

arrefeça.


Nuno Júdice


A edição da Revista Visão desta semana é acompanhada por um livro de Nuno Júdice, que pertence à Colecção Frente e Verso - Poesia e Prosa. De um lado temos prosa (O Anjo da Tempestade) e do outro poesia (Pedro, Lembrando Inês).

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009


“Não viemos por vontade própria, não sabemos porque é que o destino nos pôs nesta terra, nem para que viemos, por que viemos, nem para onde vamos. É um segredo que ninguém, depois de morto, revelou. Vivemos de esperança, que é fundamental.”

Manuel de Oliveira, por ocasião do seu 100º aniversário

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A fase do luto

Todos temos os nossos problemas e quando são nossos - e, sobretudo, porque são nossos - parecem enormes, gigantes, irreparáveis. Muitas vezes acabamos por formular teorias, construímos os cenários possíveis, andamos em círculos até conseguirmos lidar com eles, até conseguirmos agir, enfrentar a situação, tomar uma ou mais decisões, escolher o que fazer, como fazer.
Ao longo deste último ano passei por várias fases, algumas delas facilmente identificáveis neste blog. A fase da apatia foi só mais uma.
Agora acho que estou a passar pela fase do luto e , ao contrário do que a maior parte das pessoas possa pensar, eu acredito que esta fase é importante ser vivida, por ser sinónimo de uma maior consciência e aceitação perante aquilo que me está a acontecer.
Estou de luto por ter perdido a minha saúde, por estar doente, por me ter caído o cabelo, por deixar de trabalhar, por ver as pessoas que amo a sofrer, por andar encharcada em medicamentos, por estar inchada, por estar sempre em estado de alerta máximo, por sentir um cansaço extremo, por demorar demasiado tempo a recuperar, por ter consciência que a minha vida levou uma reviravolta e que jamais voltará a ser a mesma, por não poder comer tudo quanto gostaria, por não poder desfrutar do sol, por não poder andar no meio da multidão, por ...

Todos perdemos coisas. Umas vezes são coisas importantes, outras não passam de coisas insignificantes.
Acredito que é preciso fazer o luto pelas coisas importantes que perdemos para podermos seguir em frente.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Estranha em mim

Não há uma forma simples de explicar. Começou a acontecer quando fiquei horas a observar a chuva lá fora, através da minha janela. Num olhar vazio, desfocado, desinteressado. Acontece sempre que me olho ao espelho. Repete-se quando procuro as pequenas coisas do dia-a-dia e nada me consegue afastar deste súbito estado de apatia. Na impossibilidade de obter uma resposta minimamente satisfatória, deixei de me esforçar.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sunday

Farol do Penedo da Saudade
S. Pedro de Moel

Fim de tarde na Pedra do Ouro


Praia Velha


Porque há lugares que são nossos.
Lugares que nunca perdem o encanto.
Lugares onde ainda consigo encontrar paz.