O que farias se soubesses que tinhas sido atingido/a por uma doença grave?
A verdade é que nunca pensei que um dia pudesse ser confrontada com esta questão.
Arrepiava-me só de pensar, de ouvir... Mudava de canal, virava a página da revista. Imaginava que seria o maior dos pesadelos, o pior que poderia acontecer a uma pessoa. Mas o ângulo de visão mudou e a perspectiva é outra, tão diferente! Quase como se, de repente, surgisse uma fronteira entre tudo aquilo que vivemos até àquele momento e tudo aquilo que iremos viver a partir daquele diagnóstico.
O primeiro impacto é devastador, é um choque indescritível. Senti-me desnorteada, sem referências, completamente perdida. E na minha cabeça emergia este duro pensamento: "vou morrer". Há uma parte de uma música dos Within Temptation que retrata bem o sentimento:
" I can't feel my senses
I just feel the cold
All colours seem to fade away
I can't reach my soul"
Até que respirei fundo, limpei as lágrimas e olhei para a doença de frente. E cada dia que passa é uma pequena vitória. Aprendi a aceitar o que me está a acontecer, com naturalidade, mas sem resignação, sem me lamentar, sem questionar "porquê eu?". Sou feliz, sinto-me feliz e para alguns dos que me rodeiam esta é uma felicidade estranha, difícil de entender. Por vezes, difícil até de pôr em palavras. Mas é algo que se sente, porque os lugares comuns deixam de o ser. Cada dia é especial, mesmo os dias em que precisamos de ânimo. A liberdade, a esperança, a amizade, a solidariedade, o amor, o humor são valores/sentimentos maiores que todos os dias me iluminam e acompanham.