quinta-feira, 30 de abril de 2009

Anúncio Oficial

Os senhores do Serviço de Unidade de Transplantação de Medula óssea do IPO do Porto, que são seguidores acérrimos deste estaminé, não ficaram indiferentes ao meu pedido e eis que me ligaram para me informarem que na próxima segunda feira a minha vida vai deixar o modo pause... Eu bem que desconfiava que eram eles os detentores do comando... O nervoso miudinho está a começar a tomar conta de mim e geralmente descamba para a parvalheira...
Agora um bocadinho, mas só um bocadinho mais a sério, tenho um fim de semana prolongado para gozar, para pôr as ideias no lugar, para fazer as malas (uma mala cheia de pijamas, note-se), para escolher os livros e dvd´s que me irão fazer companhia entre quatro paredes e, acima de tudo, para ganhar coragem...
E se estivessem no meu lugar, com 3 dias para aproveitar antes de um assustador auto-transplante, o que fariam? Aceitam-se sugestões!

Vida em Pause

A minha vida está em pause. Não encontro o comando. Já revistei a casa, os sofás e nada. Não sei onde o deixei. Se alguém o encontrar, por favor carregue no play. Aliás, preferia que clicassem no forward. É isso.

domingo, 26 de abril de 2009

Bilhete Postal


Sempre que posso regresso aqui, a ti, uma e outra vez.
Conheço cada recanto teu, sei contornar os teus labirintos, as tuas correntes e contra-correntes. Já te fotografei dos mais diversos ângulos. És o meu farol nas noites em que a escuridão é maior. O confidente silencioso dos dias cinzentos. Gosto de ti ao luar, dessa tua melancolia pitoresca. Assim como gosto da luz com que brindas os veraneantes e da tua perfeita simbiose azul/verde.
Talvez te tenha idealizado.
Debruço-me sob a varanda do tempo e o inesperado efeito flashback devolve-me lembranças daquilo que fomos... Numa espiral de emoções.
Mudei, mudámos, mas nada consegue quebrar o facto de tudo isto fazer parte de mim por inteiro.


sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril



Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen, O Nome das Coisas (1977)


Há uma geração que é filha da Revolução dos Cravos, herdeira da liberdade.
Esta geração aprendeu, nos serões familiares ou nas aulas de História, que antes do 25 de Abril de 1974 se vivia de uma forma muito diferente. Vivia-se sob a alçada do regime salazarista, sem liberdade de pensamento e de expressão. Grande parte da população era analfabeta, abandonava a escola e começava a trabalhar muito cedo para auxiliar a família. Portugal era um país rural, vivia-se no campo, trabalhava-se na agricultura e na pesca. Eram poucas as casas que tinham água canalizada e esgotos. Os cuidados de saúde eram, praticamente, inexistentes e a taxa de mortalidade infantil era elevada. As mulheres não tinham os mesmos direitos que os homens, dependiam deles e não tinham direito ao voto. A igreja católica mantinha uma relação privilegiada com o Estado Novo.
Estes são pequenos fragmentos de um país pobre, atrasado e fechado. Retrato de um país que não convém esquecer, sobretudo quando começam a surgir vozes sugerindo que antigamente-é-que-era-bom.

É certo que estamos a atravessar um período crítico, de insatisfação com a democracia e com as instituições, com especial destaque para o mau funcionamento da justiça, no entanto e considerando a sondagem realizada pela Revista Visão, os portugueses apreciam a liberdade enquanto realidade indiscutível e incontornável que tem vindo a progredir e a consolidar-se.

“A liberdade tem, para os inquiridos, os conteúdos que mais directamente a caracterizam: pensar, falar, escrever, ler, viajar, deslocar-se na cidade, votar, associar-se e fazer greve. Pensam, no entanto, que as dificuldades económicas e o desemprego podem condicionar a liberdade”.

António Barreto in Revista Visão

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Dupla Sedução



Cada vez temos mais dificuldades em confiar nos outros. Tornámo-nos oficialmente desconfiados. É-nos difícil desarmar à primeira, à segunda ou até mesmo à terceira. À mínima coisa damos por nós a ligar o “complicómetro”. Porque há aqueles que são calculistas, os que se julgam mais espertos, os que só conseguem desiludir, os que nada têm a perder, os que deixam feridas em aberto, os que se escondem por detrás das aparências, os que fazem jogo duplo. E depois há os que nunca aprendem, os que carregam decepções, os que se deixam levar, os politicamente correctos, os que ainda têm esperança, os que já a perderam e os que a reencontraram. Por vezes somos tudo isto, umas vezes de forma consciente, outras sem darmos por isso.
E moral da história: quem ri por último ri melhor.

Gran Torino



Há pessoas que vivem agarradas ao passado, pessoas que têm dificuldades em perceber este mundo vertiginoso das mudanças. Walt (Clint Eastwood) é uma dessas pessoas, com um passado sombrio que lhe pesa na consciência e com o hábito de cerrar os dentes para demonstrar o seu desagrado perante a indiferença dos seus filhos, o desprezo dos seus netos e a estranheza que a cultura dos seus vizinhos asiáticos lhe provoca. Refugia-se no seu alpendre, enquanto observa com atenção e amargura a descaracterização do seu bairro.
Poderíamos pensar que este é um filme sobre violência urbana, preconceitos, (in)tolerância, choque de culturas ou de gerações, mas o filme é surpreendentemente mais do que isso. Eu diria que é um filme sobre a nossa capacidade de adaptação e aprendizagem ao longo da vida, sobre amizade e respeito, sobre justiça e redenção, lembrando-nos que estamos sempre a tempo de mudar, de melhorar.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Efeito Lexotan

Os contextos podem até ser muito diferentes, mas tal como os sobreviventes do terramoto em Itália se questionam porque razão o destino os escolheu a eles e à sua região para palco de tamanho drama, também nós fazemos estas questões quando o chão parece fugir debaixo dos nossos pés.
São questões para as quais não encontramos respostas. São questões que levam a outras e, nestas alturas, a única coisa que queremos é apurar responsabilidades. Iludimo-nos a pensar que esse é o cerne da questão, mas mais tarde ou mais cedo percebemos que as dicotomias justo/injusto, sorte/azar não têm grande aplicação ou utilidade prática, assim como não faz muito sentido atribuir a culpa a um Deus ou aos outros ou até mesmo a nós próprios. Tão discutível, não é? Eu sei. Para mim, resume-se a um: simplesmente aconteceu. O que poderá não ser tão simples é a forma como reagimos. Porque poderá sempre haver a revolta, a vontade de parar, o desânimo, a depressão, a angústia, a apatia... Porque a vida, por vezes, ganha o formato de uma prova de obstáculos, intervalada por breves momentos de felicidade. Mas o contrário também pode ser verdade, uma vida cheia de momentos felizes, intervalada por algumas dificuldades. Tudo é tão relativo, o que me leva a pensar que o mais importante mesmo é aprender a relativizar.

PS - Vou estar ausente o resto da semana. Espera-me um check-up médico e o mais estranho é que, nestas horas que se antecedem, dá-me para escrever e escrever e divagar... Porque será?

Revejo-me nas palavras de...

Pedro Almodóvar quando diz:

"Pouco a pouco fui-me habituando à ideia de que os meus problemas não teriam uma solução imediata."

in Revista Visão

Já passou tanto tempo e com ele fui-me apercebendo que ainda será preciso muito mais...

domingo, 12 de abril de 2009

Detalhes...




... de um fim de semana prolongado,
com o céu em pano de fundo...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Transeuntes

Hoje, enquanto passeava na rua, fui abordada por duas senhoras. Duas desconhecidas que quiseram lembrar-me que não estou só, que não sou a única, que a elas também lhes aconteceu... Uma ainda está a lutar, a outra já está curada. O mais engraçado é que foi a primeira vez que alguém se dirigiu a mim, sem me conhecer e com as palavras que nós precisamos de ouvir, vezes e vezes sem conta, como FORÇA, CORAGEM, LUTA!

terça-feira, 7 de abril de 2009

De passagem pela Beira Interior


Disperso-me na tua imensidão

quinta-feira, 2 de abril de 2009

New life



“... uma pessoa é mais feliz quando vive para mais alguém, e não para si só.”

Hermann Hesse in “Gertrud”


Esta frase descreve a felicidade espelhada no rosto da Barriguitas perante a sua pequena princesa. Dizem que a chegada de um filho modifica-nos, faz com que a vida ganhe outra perspectiva, outro sentido, outras prioridades. Acredito que sim. Talvez porque deixamos de ser o centro de gravidade.
Posso nunca ter a oportunidade de sentir esse privilégio, mas devo dizer que fico muito feliz por poder acompanhar os meus amigos nesta experiência única.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A mentira que gostava que fosse verdade

Na próxima semana não vou ter consultas, nem exames, nem internamentos. Vou estar de férias e aproveitei a deixa para dizer à minha médica que já tinha viagem marcada para Cuba e que já me estava a imaginar a nadar no mar calmo das Caraíbas. Alguém consegue imaginar a expressão na cara dela? Um misto de espanto e preocupação. Mas como eu não tenho muito jeito para mentiras, ela percebeu rapidamente do que se tratava...