segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Anestesia

Ando anestesiada por estes dias festivos e nada seria mais enganoso do que acreditar que o seu efeito perdurará com a simples transição do calendário.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008


É Dezembro, é o mês das cidades e das casas iluminadas, do movimento nas lojas, dos presentes, dos doces, da família, das sms's...
Não há lugar para tristezas, por isso queria desejar um FELIZ NATAL a todos os que estão aí e costumavam espreitar para aqui, porque fazem parte da minha vida e têm estado sempre comigo, de alguma forma.

País Real

Nestas últimas semanas muito se tem passado sem que eu tenha tido oportunidade de vir até à minha concha...
Fazendo uma actualização rápida, recebi um "balde de água fria" da segurança social, pois apesar de cumprir com os meus descontos e as minhas obrigações, a verdade é que não tenho direito a baixa. É o resultado de ter estado muito tempo a recibos verdes e apenas dois meses a contrato. É, também, sinal que não podemos adoecer. Hoje quase todos nós somos afectados pelo fenómeno da precarização e flexibilização do mercado de trabalho, algo que é em simultâneo uma realidade objectiva e um sentimento muito subjectivo. Felizmente, no meu caso, tenho um suporte familiar capaz de ajudar, caso contrário, nem seria bom imaginar...
Na semana em que isto aconteceu, também fui notificada pelas finanças para pagar uma coima pelo facto de não ter apresentado em 2007 um anexo de informação contabilística e fiscal. Já estava internada no IPO quando recebi a notícia que estas declarações podiam ser entregues até Janeiro de 2009 e que as multas seriam revogadas.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Vamos?


Pode ser pelo messenger, telefone, sms, presencialmente...
Cada conversa com os meus amigos tem um sabor especial.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Novas Oportunidades

Tenho saudades do meu trabalho. Daquela rotina que começava com o percurso entre a Covilhã e o Fundão, com a Estrela a espreitar do lado direito e a Gardunha a surgir mesmo à minha frente.
Recordo-me com grande precisão da escola. Fecho os olhos e estou a descer as escadas, a entrar no pátio grande, onde ouço o som das folhas das árvores agitadas pelo vento e os risos das crianças que brincam freneticamente no recreio. Chego à porta principal, percorro o hall de entrada, entro no Centro e de lá surge a voz do meu coordenador que, num tom paternalista, me pergunta: “menina Diana, anda a portar-se bem?”. Esta expressão faz-me sempre sorrir. Quer dizer, nem sempre, tem dias. Mas à distância, sim, faz-me rir.
Penso que vai ser mais um dia agitado: novas inscrições, sessões de acolhimento, entrevistas individuais, registar dados, identificar aptidões e interesses, traçar percursos escolares, profissionais, formativos e sociais, apresentar ofertas formativas... Depois os almoços com a I. e com a R. e as conversas feitas de pedaços de nós, do passado e do presente.
Recordo, também, os momentos em que a pressão era muita, em que o trabalho parecia sempre inacabado e em que sentiamos que estávamos a enlouquecer. E então relembras-me que não há trabalhos perfeitos e eu digo-te que estes momentos foram compensados por tantos outros de partilha e solidariedade. Não posso esquecer aquelas pessoas que trabalharam comigo diariamente, que me apoiaram em situações tão complexas e difíceis, que me fizeram esquecer e abstrair das minhas próprias circunstâncias.
Suspiro, talvez seja a nostalgia a tomar conta de mim...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Carequinha!

Depois de vários meses e de muitas ameaças, é oficial: estou carequinha!
Podia falar do momento exacto em que ele caiu, podia falar das lágrimas que, inevitavelmente, se soltaram, mas o que realmente importa é o sorriso que prevaleceu depois... Estou bonita, pareço um bebé.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

"Um exemplo para muitos anónimos"

Um testemunho na primeira pessoa:

"Quando acabei de amamentar fui fazer uma ecografia mamária e uma biopsia. Uma semana depois foi diagnosticado um cancro".

"Nunca pensei em desistir, apesar do medo inicial de morrer".

"Pensa-se na morte, fica-se com medo de ficar por ali, de perder as pessoas que amamos...".

"Porquê eu, porque que razão tenho que passar por provas tão duras?!"

"Obtive uma primeira perspectiva médica que não muito favorável e fui em busca de uma segunda opinião. É sempre importante ouvir vários médicos. Foi nesse segundo diagnóstico, do dr. Santos Costa [chefe do departamento de cirurgia do IPO], que encontrei alguma tranquilidade. No dia 7 de Março fiz a intervenção cirúrgica na clínica de Santo António . Depois fiz um tratamento adjuvante de seis ciclos de quimioterapia e 33 de radioterapia. Foi um tratamento preventivo, porque o diagnóstico foi favorável, felizmente".

"Não irei estar igual ao que era, isso é certo. Sinto-me mais vulnerável e mais intolerante para pessoas que não merecem o meu respeito. Estou na fase da ressaca."

"Estou tratada, fora de perigo e muito feliz."
Fernanda Serrano

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Primeiras impressões

Senti-me muito bem recebida no IPO do Porto, no serviço de onco-hematologia. Parece que os profissionais são escolhidos a dedo. São atenciosos, compreensivos, com sentido de humor e têm sempre uma palavra de esperança para nós.
Sinto que estou no lugar certo, na hora certa, a fazer o que é certo para a minha vida. Pode não ser fácil, mas vou substituir o medo, a angústia, as dúvidas, o pessimismo, o mal-estar, as queixas, as lágrimas, a vontade de fugir, pela alegria, a força, a coragem, a determinação, a paz, o optimismo, o sossego, a vontade de sorrir, a vontade de continuar a viver. A vida por vezes ganha um valor inestimável, como um acto de magia. Este é um novo ponto de partida, um novo tratamento. Vivo o momento aqui e agora.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Escapadinha

Devo dizer que não gosto do meu último post. Estive vai não vai para o apagar, porque me parece demasiado triste e eu tenho que me deixar de tristezas. Está decidido.
Li um artigo sobre psicologia positiva que dizia que era importante cada um de nós desenvolver algumas actividades para potenciar o nosso bem estar, o nosso lado positivo e sugeriam como trabalho de casa escrever três coisas que correram bem no seu dia-a-dia e o motivo desse sucesso.
Como não sou muito adepta de receitas instantâneas, nem tenho a disciplina necessária para fazer isso diariamente, acabo sempre por adaptar estes exercícios à minha realidade. O mesmo é dizer que penso no assunto e acabo por não fazer nada em relação ao mesmo.
Numa tentativa de contrariar esta tendência, decidi fazer aqui uma exposição das coisas boas que me aconteceram no último fim de semana.









PS - Sou a favor destas escapadinhas. Renovam-nos a alma. Clarificam-nos o pensamento. Aproximam-nos de nós próprios, das nossas raízes, dos nossos sonhos e desejos.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Há-de flutuar uma cidade (parte 2)

Este é um dos meus poemas preferidos.
Houve alturas em que me identifiquei em pleno com ele. Quando parecia que a vida passava por mim, sem me acrescentar nada de novo.
Nos tempos em que a felicidade parecia uma miragem distante, em que me sentia uma pessimista incorrigível. E, no entanto, já percorri um longo caminho. Já senti na pele a felicidade, como um arrepio que traz um novo fôlego às nossas vidas. Valeu a pena. Vale a pena. É por saber isso que continuo a acreditar, a lutar, a ter esperança.

Há-de flutuar uma cidade

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

Al Berto

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Olhares

www.olhares.aeiou.pt
“Enquanto nos mantivermos em movimento não paramos para pensar na brevidade da nossa passagem pela vida.” 
Inês Pedrosa, in Expresso 

domingo, 5 de outubro de 2008

Uma década depois aprendi...

... a desconstruir muitas das ideias pré-concebidas que tinha.
A olhar para fora do meu umbigo, ainda que considere útil fechar-me nele de vez em quando.
Que é possível ter outro ângulo de visão.
Que o mais difícil de mudar são as mentalidades.
Que a amizade não é linear, pode ter várias "nuances" e que as verdadeiras resistem às tempestades mais ferozes e à distância.
Que o amor existe e que na sua essência está a cumplicidade dos gestos e dos olhares.
Que devemos manter a capacidade de olhar as coisas boas que nos acontecem diariamente.
Que não existem verdades absolutas, existem dúvidas, possibilidades, escolhas, caminhos, atalhos...
Que as nossas vidas estão permanentemente em construção.

domingo, 28 de setembro de 2008

Esperança

Sinto que aquela porta onde tinha depositado a minha esperança se fechou. Tenho perdido dias a olhar para ela, como se ao rebobinar o filme pudesse ver o momento exacto que desencadeou este desfecho. O momento em que perdi o controlo da situação (se é que alguma vez o tive).
Estas dúvidas fazem parte de mim. Não de agora. Não desta situação em específico. Olho para trás e vejo que não é a primeira vez que me fixo na porta que se fechou à minha frente. Como é que se dá a volta a isso? Como é que continuamos? Qual é o momento em que seguimos em frente e deixamos o que se passou para trás?
O passado já me devia ter ensinado que o importante não é procurar respostas onde elas já não existem. O importante é tentar voltar a olhar à nossa volta. Voltar a procurar uma outra porta, uma janela, um feixe de luz por mais pequeno que seja.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Em Movimento

Há dias que começam por ser cinzentos. O meu Sábado começou assim. Depois, e sem nada o fazer prever, foi abrindo e dando lugar a outras cores.
A culpa foi dos Chocalhos e da minha família que esteve comigo em Alpedrinha, no Festival dos Caminhos da Transumância.
Caminhámos pelas ruas estreitas, parámos em todas as portas, ou melhor, tasquinhas (escusado será dizer que eu só tive direito a água) e assistimos a concertos e desfiles. Um misto de sons entre chocalhos, bombos e uma tuna feminina. Ainda bem que certas tradições se mantêm.

sábado, 13 de setembro de 2008

Pedalar contra o Linfoma

Não consigo falar. Tenho um nó na garganta, as lágrimas correm-me e sinto-me novamente perdida. Talvez tenha subestimado a doença. Parece que não conheço o meu corpo. Não o sinto. Não o compreendo. Não estamos em sintonia. Estava à espera de um resultado diferente e, nesta fase, vou ter que repetir o PET, voltar a fazer TAC, biópsia óssea e mielograma. Sei agora que ainda tenho que "pedalar" muito contra o linfoma. Sim, ainda não me dou por vencida.

E hoje a Associação Portuguesa de Leucemias e Linfomas (APLL) promove a iniciativa "Pedalar Contra o Linfoma" no Porto. Em vésperas do Dia Mundial do Linfoma (15 de Setembro), o director desta Associação diz que “apesar do elevado número de pessoas diagnosticadas com linfoma anualmente em Portugal existe um grande desconhecimento da doença, quer por parte da população em geral, quer por parte dos que padecem da doença”.
Iniciativas como estas são sempre uma mais valia, sobretudo para sensibilizar a população, até porque os sintomas do linfoma são pouco específicos. No meu caso, tinha uma comichão persistente nas pernas, um cansaço extremo que associava ao trabalho, um gânglio aumentado no pescoço e o último dos sintomas foi ter expectorado com sangue. Este foi o sintoma que me levou ao Hospital. Nunca mais me largaram...lol

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Para reflectir...

Enquanto aguardo os resultados, vou estando atenta ao mundo lá fora e por isso aqui fica uma reflexão que li numa revista:

“Dantes a gente ia às farmácias e via uma parede ou várias paredes cobertas de remédios. Agora não. Os medicamentos estão misteriosamente acondicionados lá mais para trás, num recatado segundo plano e diante de nós há toda uma gigantesca panóplia de bisnagas, frascos, boiões... de “estética”. É o ar do tempo a ocupar a frente do palco. Na impossibilidade –ainda- de prometer o fim da morte, garante-se o fim das rugas, o fim do envelhecimento, o fim do excesso de peso, o fim dos cabelos brancos, o fim da idade. Numa palavra, o fim do tempo.
(...)
Na vigente diluição de valores e regras, trocou-se o “nós” pelo “eu” e a publicidade obviamente corresponde, afogando as ondas hertzianas no individualismo mais feroz, “compre um carro novo, vá de férias, seja feliz, beba Coca-Cola, tenha tudo o que quer”. Mas há ainda um mais subtil convite, há esse extraordinário “atreve-te”... em prol, claro, da “felicidade”. A “tua felicidade”. Subentendido: atreve-te ao que quiseres, como quiseres.
É natural. Em nome exclusivo dessa “felicidade”(?) o mundo vetou de vez o sofrimento, tirou os velhos da frente, proibiu a idade, escondeu a morte. Tem vergonha dos que não são “felizes” porque é obrigatório ser feliz e já agora também “belo” e “jovem”, e, para isso cultive-se o corpo mais que alma, faça-se ginástica, frequentem-se os spas, pratique-se o prazer à solta. Não está a juventude, de preferência a eterna, afinal tão ao alcance da mão?
(...)
Entretanto, as prateleiras das tais farmácias – embora lá para trás- contam já tantos ansiolíticos quanto salvíficas gotas de juventude. Também é natural."

Maria João Avillez in Revista Sábado de 17-07-2008 

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Ansiedade

A ansiedade começa a tomar conta de mim. Amanhã é dia de exame (PET-CT) e com ele chegam tantas dúvidas: será que consegui passar da remissão parcial da doença para a tão desejada remissão total? Será que ainda tenho que fazer mais tratamentos? Será que vou estar preparada? Será que vou voltar a ter forças?
Por um lado, sei que nós temos uma capacidade de resistência superior àquela que imaginamos, mas por outro sinto que todo este sobressalto tem sido desgastante fisica e psicologicamente.
Resta-me aguardar, respirar fundo e seguir bons conselhos.
Como diz o provérbio chinês: "Espera o melhor, prepara-te para o pior e aceita o que vier".

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Um Ano (Para atravessar contigo o deserto do mundo)

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade, para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo 

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.


Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

FÉRIAS

Serra Peneda Gerês

Miradouro de Vila Nova de Cerveira, com vista para o Rio Minho.
De um lado Portugal, do outro Espanha.

Percurso pela Área Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d'Arcos,
Ponte de Lima

Vigo

Praias junta a Vigo

Museu de Arte Contemporânea de Serralves

Parque Serralves

Porto

Estou de FÉRIAS!
A desfrutar do lado bom da vida (um dos muitos). 
E a verdade é que gosto de sentir esta liberdade. Das manhãs de preguiça, boa disposição e do prazer de ter um novo livro para ler, daqueles que nos prendem desde o primeiro parágrafo. Das tardes longas em que percorremos quilómetros e nos apoderamos das paisagens a Norte. Das noites nas esplanadas, no deambular das ruas iluminadas pelo verão...
Sinto que estas férias me fizeram bem. Consegui abstrair-me completamente do peso que nos últimos meses carreguei.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Testemunhos

Não queria tornar este espaço num diário sobre a minha doença, mas quem passa por estas situações sabe que é inevitável, especialmente porque a aprendizagem é uma constante. Nesta fase é importante partilhar e eu tenho sido uma privilegiada desde o início. 
A primeira pessoa que me deu o seu testemunho foi a Joana que, no auge da sua adolescência, teve um linfoma não-hodgkin. Fiquei impressionada com a sua força e com a naturalidade com que falou da quimioteriapia e radioterapia. Naquela altura, eu ainda pisava um terreno desconhecido e foi fundamental perceber os efeitos deste tipo de tratamentos no corpo e na mente. Já passaram oito anos e a Joana está curada e houve uma frase dela que ficou gravada na minha memória e que recordo com muita frequência, sobretudo pela coragem que me transmitiu. Ela disse que nos meus olhos havia uma alegria de viver e que era essa alegria que me iria ajudar a superar os bons e os maus momentos.
No meu primeiro tratamento, conheci a Fátima que com o seu ar aparentemente frágil, segurou-me a mão e disse-me "eu também tenho um linfoma de hodgkin e hoje é o meu terceiro tratamento". A partir daquela hora ficámos amigas, companheiras de luta, de uma cumplicidade única que se prolonga para lá das portas do hospital. As nossas caminhadas ao final da tarde são um bom exemplo disso. 
Algum tempo depois conheci a Andreia, uma verdadeira lutadora a quem a vida muito tem desafiado, desta vez com um linfoma não-hodgkin. Partilhamos as nossas dúvidas, os nossos sintomas e damos muito força uma à outra. É este o lado positivo da doença. Sentir que não estamos sozinhas. Sentir que tudo isto tem uma razão de ser. Como um teste que nos faz crescer e viver de forma mais intensa.  
Por sugestão da Andreia, comprei o livro "Viver de Amar" de Otília Pires de Lima, um excelente testemunho que quero partilhar, deixando os seguintes excertos: 

"A minha cabeça era um turbilhão na procura desesperada da saída. Encontrei-a na condição de mãe  e principalmente de filha que me impedia totalmente de fazer sofrer, a esse nível, os seres que mais amava. Por eles teria que lutar, vencer tudo e todos, ganhar o direito de continuar a viver. Dentro de mim soltou-se um grito ensurdecedor: - NÃO."

"São provações, indutores de crescimento, que nos aparecem e devemos saber aceitar, aprendendo o que nos pretendem ensinar. Chegou a minha vez de sofrer, de ver o mundo pela essência, através do que realmente importa e, de tudo quanto importa, o Amor e a Saúde estão à cabeça da lista."

"Foi-me dado o privilégio de entrar noutra dimensão, ganhar novos sentidos, passar a ver o mundo e as pessoas sob outras cores e a importância das coisas redimensionar-se com resultados incríveis."

Eu a Fátima, num dia de luta

Durante um tratamento de Quimioterapia

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Pedido de Desculpas

Uma grande amiga minha costuma dizer que “as desculpas não se pedem, evitam-se”. Mas por vezes é mesmo preciso dizer DESCULPA, porque quando damos um passo, nem sempre temos a noção que já não é possível apagá-lo...
Desculpa pelas minhas constantes mudanças de humor.
Desculpa por esperares mais de mim e de eu não corresponder.
Desculpa por não te valorizar mais quando era isso que tu merecias ouvir, vezes e vezes sem conta.
Desculpa não estar presente quando tu precisas de mim.
Desculpa a distância, a falta de tempo, a inércia e o silêncio.
Desculpa as promessas que ficaram por cumprir.
Desculpa a arrogância que tu sabes que algures também existiu.
Desculpa por te ter magoado, magoa-me a dobrar.
Desculpa por nem sempre saber retribuir em gestos, em palavras e em acções.
Desculpa, falhei. Não tenho razão.
Do fundo do meu coração, desculpa. Desculpem.

terça-feira, 8 de julho de 2008


"Escuto o meu interior,
onde personagens e narrativas aguardam
que eu lhe sopre verosimilhança
ou lhes confira a realidade"
Lya Luft

Enquanto falavas escutei-te com atenção e não pude deixar de reparar no quanto mudaste nestes últimos anos. Lembro-me da tua rebeldia e do teu espírito inquieto. Naqueles tempos, a liberdade era o teu guia. Tinhas pressa e sede de viver, viver tudo, rapidamente. Criavas sempre um bom ambiente à tua volta e a tua energia era contagiante.
O que poucos sabiam é que por detrás dessa faceta, havia uma outra. Complexa, insatisfeita, perturbada, fechada. Como um segredo que ao longo dos anos foi sendo coberto por sucessivas camadas e interiorizado ao ponto de ser praticamente imperceptível. Quase te levou ao abismo.
Hoje sei que as conciliaste. É visível no teu olhar, nos teus gestos, nas tuas palavras, na tua tranquilidade. Num momento inesperado, agarraste a oportunidade, porque não podias negar o que estava a acontecer, não era possível ignorar e seguir em frente. Isso faz de ti uma pessoa mais completa, até porque a raiz para seres feliz está e sempre esteve dentro de ti.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Open your eyes

Apercebo-me agora que, perante a sucessão de acontecimentos que vivemos diariamente, nem sempre conseguimos estar atentos aos sinais, nem sempre temos os olhos abertos. Apercebo-me, também, que isto tem acontecido com mais frequência do que aquilo que seria desejável.
Há alturas em que acredito que somos cegos voluntários, especialmente quando a realidade está mesmo à nossa frente e insistimos em criar ilusões, em manter a esperança. Parece que não queremos ver o óbvio e fechamos os olhos, simplesmente. O problema são as consequências, as possibilidades, os "se" que entretanto questionamos quando olhamos para trás.
Por tudo isto, é importante estar atento, é necessário reparar e ver e, claro, assumir o que está diante de nós.



quarta-feira, 18 de junho de 2008

Dias de Luta

O que farias se soubesses que tinhas sido atingido/a por uma doença grave?
A verdade é que nunca pensei que um dia pudesse ser confrontada com esta questão.
Arrepiava-me só de pensar, de ouvir... Mudava de canal, virava a página da revista. Imaginava que seria o maior dos pesadelos, o pior que poderia acontecer a uma pessoa. Mas o ângulo de visão mudou e a perspectiva é outra, tão diferente! Quase como se, de repente, surgisse uma fronteira entre tudo aquilo que vivemos até àquele momento e tudo aquilo que iremos viver a partir daquele diagnóstico. 
O primeiro impacto é devastador, é um choque indescritível. Senti-me desnorteada, sem referências, completamente perdida. E na minha cabeça emergia este duro pensamento: "vou morrer". Há uma parte de uma música dos Within Temptation que retrata bem o sentimento:

" I can't feel my senses
I just feel the cold
All colours seem to fade away
I can't reach my soul"

Até que respirei fundo, limpei as lágrimas e olhei para a doença de frente. E cada dia que passa é uma pequena vitória. Aprendi a aceitar o que me está a acontecer, com naturalidade, mas sem resignação, sem me lamentar, sem questionar "porquê eu?". Sou feliz, sinto-me feliz e para alguns dos que me rodeiam esta é uma felicidade estranha, difícil de entender. Por vezes, difícil até de pôr em palavras. Mas é algo que se sente, porque os lugares comuns deixam de o ser. Cada dia é especial, mesmo os dias em que precisamos de ânimo. A liberdade, a esperança, a amizade, a solidariedade, o amor, o humor são valores/sentimentos maiores que todos os dias me iluminam e acompanham. 

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Redescoberta

São tantas as vezes que preciso de parar, de pensar e repensar.
Vivo (vivemos) numa agitação permanente que me (nos) deixa pouco tempo e espaço para olhar a vida e para me (nos) concentrar(mos) na descoberta da sua essência.
Na minha concha espero ter o meu espaço de reflexão, o meu tempo de silêncio. De reencontro comigo própria. Será um espaço feito de palavras, de sentir, de pulsar, de atribuir um significado às experiências vivenciadas. É talvez uma forma de revisitar o mundo, o meu mundo, o teu mundo, este que nos rodeia e envolve.

sábado, 14 de junho de 2008

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill