Não queria tornar este espaço num diário sobre a minha doença, mas quem passa por estas situações sabe que é inevitável, especialmente porque a aprendizagem é uma constante. Nesta fase é importante partilhar e eu tenho sido uma privilegiada desde o início.
A primeira pessoa que me deu o seu testemunho foi a Joana que, no auge da sua adolescência, teve um linfoma não-hodgkin. Fiquei impressionada com a sua força e com a naturalidade com que falou da quimioteriapia e radioterapia. Naquela altura, eu ainda pisava um terreno desconhecido e foi fundamental perceber os efeitos deste tipo de tratamentos no corpo e na mente. Já passaram oito anos e a Joana está curada e houve uma frase dela que ficou gravada na minha memória e que recordo com muita frequência, sobretudo pela coragem que me transmitiu. Ela disse que nos meus olhos havia uma alegria de viver e que era essa alegria que me iria ajudar a superar os bons e os maus momentos.
No meu primeiro tratamento, conheci a Fátima que com o seu ar aparentemente frágil, segurou-me a mão e disse-me "eu também tenho um linfoma de hodgkin e hoje é o meu terceiro tratamento". A partir daquela hora ficámos amigas, companheiras de luta, de uma cumplicidade única que se prolonga para lá das portas do hospital. As nossas caminhadas ao final da tarde são um bom exemplo disso.
Algum tempo depois conheci a Andreia, uma verdadeira lutadora a quem a vida muito tem desafiado, desta vez com um linfoma não-hodgkin. Partilhamos as nossas dúvidas, os nossos sintomas e damos muito força uma à outra. É este o lado positivo da doença. Sentir que não estamos sozinhas. Sentir que tudo isto tem uma razão de ser. Como um teste que nos faz crescer e viver de forma mais intensa.
Por sugestão da Andreia, comprei o livro "Viver de Amar" de Otília Pires de Lima, um excelente testemunho que quero partilhar, deixando os seguintes excertos:
"A minha cabeça era um turbilhão na procura desesperada da saída. Encontrei-a na condição de mãe e principalmente de filha que me impedia totalmente de fazer sofrer, a esse nível, os seres que mais amava. Por eles teria que lutar, vencer tudo e todos, ganhar o direito de continuar a viver. Dentro de mim soltou-se um grito ensurdecedor: - NÃO."
"São provações, indutores de crescimento, que nos aparecem e devemos saber aceitar, aprendendo o que nos pretendem ensinar. Chegou a minha vez de sofrer, de ver o mundo pela essência, através do que realmente importa e, de tudo quanto importa, o Amor e a Saúde estão à cabeça da lista."
"Foi-me dado o privilégio de entrar noutra dimensão, ganhar novos sentidos, passar a ver o mundo e as pessoas sob outras cores e a importância das coisas redimensionar-se com resultados incríveis."
Eu a Fátima, num dia de luta
Durante um tratamento de Quimioterapia