domingo, 22 de fevereiro de 2009

Rotina

Ao abrir a janela do quarto para outras

janelas de outros quartos, ao veres a rua que desemboca

noutras ruas, e as pessoas que se cruzam, no início da

manhã, sem pensarem com quem se cruzam

em cada início de manhã, talvez te apeteça

voltar para dentro, onde ninguém te espera. Mas

o dia nasceu - um outro dia, e a contagem do tempo

começou a partir do momento em que

abriste a janela, e em que todas as janelas

da rua se abriram, como a tua. Então, resta-te

saber com quem te irás cruzar, esta manhã: se

o rosto que vais fixar, por uns instantes, retribuirá

o teu gesto; ou se alguém, no primeiro café que

tomares, te devolverá a mesma inquietação

que saboreias, enquanto esperas que o líquido

arrefeça.


Nuno Júdice


A edição da Revista Visão desta semana é acompanhada por um livro de Nuno Júdice, que pertence à Colecção Frente e Verso - Poesia e Prosa. De um lado temos prosa (O Anjo da Tempestade) e do outro poesia (Pedro, Lembrando Inês).

Um comentário:

Anônimo disse...

Já tinha aqui desabafado o facto de gostar de rotina ;o)
Muito bonito este texto … Gostei muito !
Beijinhos,