quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Para reflectir...

Enquanto aguardo os resultados, vou estando atenta ao mundo lá fora e por isso aqui fica uma reflexão que li numa revista:

“Dantes a gente ia às farmácias e via uma parede ou várias paredes cobertas de remédios. Agora não. Os medicamentos estão misteriosamente acondicionados lá mais para trás, num recatado segundo plano e diante de nós há toda uma gigantesca panóplia de bisnagas, frascos, boiões... de “estética”. É o ar do tempo a ocupar a frente do palco. Na impossibilidade –ainda- de prometer o fim da morte, garante-se o fim das rugas, o fim do envelhecimento, o fim do excesso de peso, o fim dos cabelos brancos, o fim da idade. Numa palavra, o fim do tempo.
(...)
Na vigente diluição de valores e regras, trocou-se o “nós” pelo “eu” e a publicidade obviamente corresponde, afogando as ondas hertzianas no individualismo mais feroz, “compre um carro novo, vá de férias, seja feliz, beba Coca-Cola, tenha tudo o que quer”. Mas há ainda um mais subtil convite, há esse extraordinário “atreve-te”... em prol, claro, da “felicidade”. A “tua felicidade”. Subentendido: atreve-te ao que quiseres, como quiseres.
É natural. Em nome exclusivo dessa “felicidade”(?) o mundo vetou de vez o sofrimento, tirou os velhos da frente, proibiu a idade, escondeu a morte. Tem vergonha dos que não são “felizes” porque é obrigatório ser feliz e já agora também “belo” e “jovem”, e, para isso cultive-se o corpo mais que alma, faça-se ginástica, frequentem-se os spas, pratique-se o prazer à solta. Não está a juventude, de preferência a eterna, afinal tão ao alcance da mão?
(...)
Entretanto, as prateleiras das tais farmácias – embora lá para trás- contam já tantos ansiolíticos quanto salvíficas gotas de juventude. Também é natural."

Maria João Avillez in Revista Sábado de 17-07-2008 

Um comentário:

Deeper disse...

Um dia escreveste que havia qualquer coisa de mágico nos meus textos. Os teus têm qualquer coisa de muito sábio. Não são fruto de uma sabedoria que se apreende nos livros, nas cadeiras da faculdade. São antes inspirados por uma sabedoria que vem com a vivência de momentos difíceis, intensos. Ler-te é sempre um ensinamento. Obrigada por existires, e por continuares a escrever! Beijo muito grande cheio de uma energia que eu sei que te sobra!